“Escola Sem Partido” avança na Alemanha
Estudantes ganham espaço virtual para denunciar professores que tentam doutrinar politicamente

Houve um grande debate na Alemanha depois que sites com o nome Neutrale Schulen (Escolas Neutras, em português) foram abertos por um partido político de direita, no mês de setembro.
A iniciativa permite que estudantes denunciem professores que expressem sua opinião política durante as aulas. Além de Hamburgo, iniciativas semelhantes já existem em Berlim, Saxônia, Brandenburg e Baden-Württemberg.
A ideia é semelhante ao Escola Sem Partido (ESP), no Brasil, criado pelo advogado Miguel Nagib e apoiado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. No caso do ESP, um cartaz seria afixado em sala de aula para lembrar aos alunos sobre os “deveres” dos professores e do direito que eles têm de não serem “doutrinados”.
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O que significa ser “neutro”
De acordo com a Central Nacional de Educação Política (lpb) da Alemanha, o requisito de neutralidade, adotado desde 1976 nas escolas do país, prevê em seus componentes básicos: “uma proibição da doutrinação e um preceito de apresentar fatos politicamente controversos de forma a capacitar os alunos a desenvolver o seu próprio julgamento sobre temas políticos”.
“Aparentemente, nem todas as diretorias escolares perceberam que a obrigação de neutralidade político-partidária na sala de aula não implica restrição da liberdade de expressão dos professores”, citou Kevin Kühnert, porta-voz de política escolar do Partido Social-Democrata em Berlim.
Em entrevista ao BBC News Brasil, Franz Kerker, membro do AfD no parlamento estadual de Berlim, afirmou: “Lançamos o site porque recebemos diversas reclamações de pais e estudantes sobre professores difamando o AfD como extremista ou mesmo nazista. Alguns até dão aos alunos informações erradas sobre nosso programa político”.
Oposição
Em reunião já no início de outubro, o presidente da Conferência dos Secretários de Educação e Cultura da Alemanha (KMK), Helmut Holter, criticou a iniciativa do partido “Alternativa para a Alemanha” (AfD, sigla em inglês). Com 92 cadeiras, esse partido tornou-se a principal força de oposição à coalização da chanceler Angela Merkel.
“Por razões atuais, nos posicionamos decididamente contra portais de internet em que alunos devam supostamente denunciar seus professores devido à alegada influência política”, afirmou Holter durante o encontro em Berlim. Para o político, isso seria péssimo para o clima escolar.
“Devido à nossa história é compreensível que AfD e outros partidos de direita estejam sendo observados. O AfD colabora de perto com alguns movimentos neonazistas. É correto que os professores sejam muito sensíveis em relação à extrema-direita”, disse Sybille Volkholz, que é especialista em educação e ex-senadora pelo Partido Verde para Escola.
Para a ministra alemã da Justiça, Katarina Barley, a denúncia organizada é um “instrumento das ditaduras”. Mas para o Afd, a iniciativa fortalece o discurso democrático e livre. “Queremos esclarecer de forma abrangente sobre a legislação que envolve o requisito de neutralidade”.
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