Medo e preocupação: como vivem os moradores de Buriticupu, cidade que pode ser 'engolida' por voçorocas crateras gigantescas no interior do Maranhão
Moradores já perderam casas, parentes e a esperança de morar na cidade em segurança.
Moradores na cidade de Buriticupu, no Maranhão, vivem um dilema: como trabalhar, se divertir e produzir em uma cidade que pode ser "engolida" por crateras e não existir em um futuro próximo? O questionamento pode parecer exagerado, mas é real
O receio dos moradores é legítimo e possível, segundo os pesquisadores, mas pouco provável, especialmente se alguma ação de contenção for realizada a tempo.
"Do ponto de vista da dinâmica da natureza, é possível que toda aquela área alta, que abriga hoje Buriticupu, aplainada, erodida, e se torne um vale ou uma área plana mais rebaixada e, diante dessa dinâmica natural, seria possível sim que a cidade fosse arrasada por erosão, dentro, claro, de um tempo geológico", explicou Marcelino Farias, chefe do departamento de Geociência da Universidade Federal do Maranhão, que possui pesquisas sobre as voçorocas de Buriticupu.
"Entretanto, a cidade vai se adaptando e, ainda que não tenha obras significativas, as pessoas vão se movimentando, a cidade vai mudando seus limites, mudando de lugar, e se adaptando a essas ameaças", acrescentou.
Nas últimas três décadas, cerca de 70 casas já foram engolidas e há pelo menos 180 em áreas consideradas de risco. Algumas delas estão localizadas no Residencial Eco Buriticupu, onde mora a Kailanny Pinheiro, de 21 anos.
Há três anos, uma enorme voçoroca começou a crescer perto de uma das ruas do residencial e, gradualmente, foi engolindo moradias. Para Kailanny, a casa dela pode ser a próxima, em breve.
"Toda chuva ela [voçoroca] cresce um pouco. Todo inverno é uma preocupação. (...) Eu tenho medo [de perder a casa], a gente tem muitas lembranças aqui. A minha sobrinha nasceu e cresceu aqui. A gente tem lembranças, apego, carinho, tem memória", conta a estudante, que também nasceu em Buriticupu.
Segundo os moradores, o problema das voçorocas já dura décadas, e está ligado com o nascimento da cidade de Buriticupu, quando a ocupação da região, na década de 1980, foi feita sem planejamento e com muita extração irregular de pedras e madeira. O solo desprotegido foi provocando, lentamente, o início das crateras, que não pararam de crescer durante os períodos de chuva. Atualmente, são 26 voçorocas ao redor da cidade, sem perspectiva de solução.
"Nós não sabemos o que fazer, por onde começar. Os gestores sempre vão passar de um para o outro essa responsabilidade. Os geólogos já vieram aqui e o que eles falam é que restaurar o Buriticupu é quase impossível, pois precisaria de grana demais para preencher as voçorocas. Seria caro demais e inviável. Seria o dinheiro de construir outra cidade", explicou Isaías Neres, presidente da Associação de Moradores das Áreas Atingidas pelas Erosões de Buriticupu.
"Eles recomendam que seja pelo menos contida essas voçorocas, através de um trabalho de contenção e depois plantio de algum tipo de vegetação. A mais adequada é a do bambu", concluiu.
Voçoroca no quintal
Francisco Cavalcante tem 71 anos, e mora há 17 anos com uma voçoroca nos fundos de sua casa, na Vila Santos Dumont. Ele se mantém no local porque vive de pequenas plantações e não tem condições de se mudar.
"Quando cheguei aqui, o buraco era pequeno e tinha várias pessoas morando perto. Depois muitos foram indo embora. Gosto de plantar e não tenho terra para trabalhar, então estou aqui, na beirada do buraco", contou Francisco, que tem dois filhos e já derrubou outras duas casas devido ao avanço da voçoroca.
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