O ex-agricultor maranhense que virou jóquei bicampeão na Inglaterra
Silvestre de Sousa, estrela do turfe no Reino Unido, estudou até a 6ª série, trabalhou no sítio da família no Maranhão e se mudou para São Paulo ainda adolescente para trabalhar como tapeceiro

Até os 17 anos, Silvestre não tinha ideia do que era um jóquei. Aprendeu a andar a cavalo com quatro anos, no pequeno sítio onde seus pais moram até hoje em São Francisco, cidade com cerca de 12 mil habitantes no interior do Maranhão, quase fronteira com o Piauí. Lá, ajudava o pai com os animais e o trabalho de agricultor. Foi à escola, mas parou na 6ª série do então ensino fundamental.

Quando fez 14 anos, decidiu seguir para São Paulo, onde Roberto, o mais velho dos nove irmãos, já vivia. Na capital paulista, Silvestre foi trabalhar como tapeceiro, ajudando o irmão. “Geralmente quem vive no Nordeste vai para São Paulo para buscar uma melhora de vida”, diz, explicando por que deixou a vida no campo.
Afastado dos cavalos na cidade grande, conheceu um amigo que lhe falou da escolinha de jóqueis no Jockey Club de São Paulo. Foi conhecer o local e acabou se inscrevendo para tentar uma vaga.
Com seus 1,52 m, altura ideal para o turfe, e o corpo franzino, foi aprovado e se mudou para o alojamento da instituição, onde passou a ter aulas e a competir.
“Fui um dos destaques dos aprendizes e aí me falaram de uma oportunidade na Irlanda”, lembra.

Mudança de país
Um treinador irlandês de cavalos havia entrado em contato com o Jockey paulista atrás de mão de obra. Silvestre se interessou e, em 2004, desembarcava em Kildare, na Irlanda, em pleno inverno, e não falando uma palavra em inglês.
“Fui para ser escovador e galopador de cavalos. O começo foi difícil, não sabia a língua, fazia muito frio. Mas comecei a pedir para ir montando, e tirei meu registro profissional”, lembra. Ele conta que levou cerca de dois anos para conseguir se comunicar direito em inglês. “Aprendi lendo livros e na convivência com amigos. Depois, arrumei uma namorada irlandesa, isso ajudou também.”
Como seu patrão na Irlanda não dava muito espaço para que ele competisse, Silvestre buscou trabalho na Inglaterra. Conseguiu um novo emprego como galopador e escovador em Yorkshire, junto com um dos mais famosos treinadores de jóqueis do Reino Unido, David Nicholls.
“Ele me ensinou muita coisa e deixava eu pegar algumas montarias de vez em quando. Comecei a ganhar umas carreiras e decidi virar freelancer dois anos depois”, diz Silvestre.
Com 24 para 25 anos, o jóquei conseguiu um agente e passou a disputar competições.

Preconceito
O brasileiro ressalta que o começo no turfe foi difícil. Sofria preconceito, não conseguia se comunicar tão bem e normalmente não o deixavam montar os melhores cavalos, que ele ajudava a treinar.
“Criticavam porque não falava a língua e porque achavam que eu, brasileiro, estava tomando o espaço deles. Alguns jóqueis e treinadores falavam na minha cara. Às vezes eu montava um cavalo e fazia uma corrida excelentee aí na próxima vez que eu ia correr, colocavam um jóquei com mais nome para montá-lo. Senti que tinha que ser muito forte para persistir”, fala.
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