Na lama: Rocha dissemina mentiras nas redes sociais como estratégia eleitoral para 2018
Ao contrário do que se imagina, as acusações do senador Roberto Rocha (PSDB) contra o governador Flávio Dino (PCdoB) não são manifestações do seu desequilíbrio mental, mas parte de uma estratégia política para manipular o eleitorado através de notícias falsas propagadas nas redes sociais.
A tática definida como “pós-verdade” demonstrou sua eficiência na eleição de Donald Tramp à presidência dos EUA em 2016, e hoje compõe a cartilha do marketing eleitoral como forma adequada de valorizar ou desconstruir um candidato.
Nas redes sociais, onde os integrantes confiam mais uns nos outros do que em qualquer órgão tradicional de imprensa, as mentiras compartilhadas rapidamente ganham aparência de verdade, segundo constatou a revista britânica The Economist em artigo sobre o assunto.
No mundo da pós-verdade, a veracidade de uma notícia não depende da objetividade dos fatos, mas da crença do público em acreditar no que deseja acreditar. Um boato bem elaborado e amplamente divulgado, apesar de claramente infundado, tem o mesmo valor de uma matéria que o contradiga e prove sua falsidade.
É com esta orientação, que Roberto Rocha a serviço da família Sarney, aproveitou a decisão do ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud, em invocar seu direito constitucional e ficar calado durante o seu “depoimento” na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, para questioná-lo sobre quem seria o outro governador eleito beneficiado com propina da empresa em 2014; já que embora tenha delatado que 16 foram agraciados com as “doações”, ele só citou 15 em sua declaração ao Ministério Público Federal, registrada em áudio.
– Falta um. Vossa senhoria poderia informar quem é que ficou protegido nesta conta?
– Isso é muito fácil. É só o senhor ir nos autos, lá tem tudo. Mas eu vou permanecer em silêncio – respondeu Saud.
Era a oportunidade já esperada por Rocha ao formular uma pergunta que sabia que não seria respondida, para expor sua tese falaciosa em transmissão ao vivo pela TV, com a devida repercussão por blogs fundamentalistas que defendem o retorno da oligarquia ao Palácio dos Leões.
Sem qualquer interesse em obter a resposta nos autos, como sugerira Saud, o senador cumpriu o planejado e tascou:
– O senhor não pode dizer quem é o 16º governador que recebeu propina? Bom, eu vou dizer, senhor presidente. O 16º é o governador do Maranhão, do PCdoB, cujo irmão era a alma do doutor Janot. E talvez o doutor Ricardo Saud tenha o interesse de protege-lo a época. Isso está constando na declaração de prestação de contas do candidato a governador. A mesma JBS disse que deu R$ 13 milhões ao PCdoB. O PCdoB só tinha um candidato no Brasil. Era o candidato a governador do Maranhão. Exatamente este que o depoente tenta claramente proteger – deferiu sem sequer piscar.
De imediato a presepada foi divulgada nas redes sociais e veículos de comunicação da famiglia com ares de denúncia séria. Para completar, a “notícia” foi seguida de um vídeo com o seu pronunciamento intitulado cinicamente de “Em busca da verdade”.
No entanto, se essa fosse a sua intenção ele não teria dificuldade de encontrar a verdade nos documentos entregues pelo próprio Ricardo Saud ao MPF, dentre os quais a lista completa com os 16 governadores eleitos que teriam recebido propina sem o nome de Flávio Dino.
Aliás, por lá também encontraria a deleção do ex-executivo da JBS, afirmando que a doação para o diretório nacional do PCdoB foi de R$ 10 milhões, e não os R$ 13 milhões alardeados em sua pergunta na CPMI.
Por sinal, na mesma delação Saud relata suposta chantagem feita pelo jornalista Cláudio Humberto – o mesmo que ele utilizou para difamar Flávio Dino no caso do roubo dos equipamentos da Rádio Capital – para que deixasse de fazer publicações considerando-o como o homem da mala do grupo J&F, mediante pagamento mensal de R$ 18 mil.
Uma outra mentira dita sem o menor decoro pelo parlamentar maranhense é facilmente desmontada acessando o site do Tribunal Superior Eleitoral, que disponibiliza a prestação de contas de Dino, onde ao contrário do propalado por Roberto Rocha, não consta os R$ 13 milhões e nenhum centavo em contribuição da empresa dos irmãos Wesley e Joesley Batista.
Até mesmo os R$ 800 mil destinados pela direção nacional do PCdoB à sua campanha tem origem nas doações da Acellor Mittal e Mineração Corumbaense, ambas declaradas à Justiça Eleitoral.
Deboche e mentiras
Pego na mentira pelo blog Atual 7 que divulgou a lista com os 16 governadores, Rocha não se fez de rogado e reagiu com deboche e o embuste de sempre.
– O áudio do Ricardo Saud diz isso. Na delação dele ele mesmo diz isso. E na prestação de contas de Flávio há essa doação! Ele pode ter errado ao falar 16 e ter citado 15. Como ele também pode ter errado ao citar 16 e serem 17 – disse ao referido blog.
O uso de notícias falsas com o objetivo de caluniar e atingir adversários políticos, tem preocupado o TSE diante do impacto que elas tiveram nas eleições americana e francesa. O tribunal discute a formação de um grupo de trabalho para monitorar as “fake news” disseminadas nas redes sociais para evitar que esse tipo de fraude influencie o voto do eleitor em 2018.
Só para se ter uma ideia da dimensão do problema, estudo dos economistas Hunt Allcott e Matthew Gentzkow sobre a disputa ianque concluiu que as postagens pró-Trump foram compartilhadas 30 milhões de vezes, enquanto as pró-Hillary Clinton 8 milhões.
A “notícia” de que o Papa Francisco havia apoiado a candidatura de Trump foi a segunda notícia falsa sobre política mais republicada em 2016; enquanto que por parte de Hillary, a fake News com alta interação no Facebook foi a de que um agente do FBI, que investigava o vazamento de e-mails da candidata teria cometido suicídio.
No Brasil, exemplos é que não faltam. Dia desses circulava nas redes, notícia compartilhada pelos bolsominios de que o deputado federal Jean Wyllys, homossexual assumido, apresentou projeto de lei para modificar os artigos da bíblia!
Desesperados, os sarneysistas são capazes de tudo. Ainda mais quando sabem que não é qualquer mentira que vai colocar abaixo uma realidade alicerçada no trabalho.
Veja Aqui a prestação de contas de Flávio Dino
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Com informações dos artigos de Gabriel Priolli, publicado dia 13 de janeiro de2c017 na revista Carta Capital, de Álex Grijelmo publicado dia 28 de agosto de 2017, no jornal El País, de Carla Mereles, publicado dia 01 de agosto no site Politize, e de André Cabette Fábio, publicado dia 16 de novembro no site do nexojornal. Todos sobre a pós-verdade, a palavra do ano segundo a Universidade de Oxford.
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