Páginas

quinta-feira, 14 de março de 2019

'Não quero voltar para onde vi meus amigos mortos', diz aluno de Suzano

Em velório, estudantes relatam que pretendem mudar de escola: Se aconteceu uma vez, pode acontecer outra. É por falta de segurança


Fachada de escola se transforma em memorial em homenagem às vítimas

Fachada de escola se transforma em memorial em homenagem às vítimas

REUTERS/Ueslei Marcelino
massacre ocorrido na escola estadual Professor Raul Brasil, na quarta-feira (13), em Suzano, deixou marcas que dificilmente serão esquecidas para os alunos que saíram com vida do local. Alguns destes, abalados por perderem seus amigos, pretendem deixar o colégio, como disseram à reportagem do R7 no velório de seis dos dez mortos.
O aluno Rosnei Marcelo, de 15 anos, afirma que está decidido sobre a mudança. "Se aconteceu uma vez, pode acontecer outra. É por falta de segurança mesmo. Se tivesse um policial ali, isso podia ser evitado”, afirma Rosnei, que presenciou o crime e perdeu amigos. “É difícil entrar na escola onde você viu seus amigos mortos”, diz ele.
A segurança, no entanto, não é a única razão que os faz pensar em deixar o colégio. Sentindo um mal-estar, Luis Gustavo, 15 anos, faltou à escola no dia do massacre, mas acredita que as marcas ficarão. "Quero sair porque amigos meus morreram lá. Acho que, toda vez que entrar lá, vou me sentir mal”, comenta ele.
Assim como Luis, Lucas Vinicios, da mesma idade de seus colegas, diz que não é possível se esquecer o que ocorreu ali. "Sempre vou me lembrar dos amigos que perdi. Ficou uma marca disso”. Com motivações similares às de Luis, Lucas e Rosnei, outros dois garotos, que preferiram não se identificar, também pretendem deixar a escola.
O massacre
Oito pessoas morreram na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, a 50 km de São Paulo, após dois ex-alunos invadirem o estabelecimento de ensino e dispararem na direção de estudantes e funcionários na manhã desta quarta-feira (13).
As informações foram confirmadas pela Polícia Militar e pelo Governo do Estado de São Paulo. Segundo a corporação, oito pessoas morreram no local e outras duas após serem levadas para o hospital.
Pelo menos 23 vítimas foram encaminhadas para hospitais da região, às 11h47. Segundo o governo do Estado, nove foram para o Santa Maria, três para a Santa Casa de Misericórdia de Suzano, duas para Luzia de Pinho Mello, dois para Santana, cinco para Santa Marcelina e duas para Clínicas. Minutos depois, às 12h35, o governo voltou atrás e confirmou 10 vítimas. Desta vez, sem mencionar quais seriam os hospitais para onde foram encaminhadas.
Os atiradores estavam encapuzados e teriam invadido a escola disparando, de acordo com informações da Record TV. Cinco jovens morreram no local, além de uma funcionária da escola. Outras duas pessoas morreram após serem socorridas. Os suspeitos teriam se matado na sequência. As informações do centro de comunicação da PM de São Paulo.

  • Crime em Suzano pode estimular ataques, avaliam médicos

    Episódio não deve ser omitido, mas é preciso atenção para não glamourizá-lo
    Episódio não deve ser omitido, mas é preciso atenção para não glamourizá-loEdu Garcia/R7
    A repercussão do ataque a tiros na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, pode contribuir para a ocorrência de crimes semelhantes, alertam especialistas.
    "A divulgação pode potencializar algumas pessoas mais vulneráveis, sugestionáveis a querer reproduzir essa ação", afirma Antonio Serafim, diretor da área de neuropsicologia do HC (Hospital das Clínicas).
    A opinião é compartilhada pelo psiquiatra Daniel Martins de Barros, do Instituto de Psiquiatria, também do HC, e colunista do jornal O Estado de S. Paulo. "Eventualmente, pessoas que passam por situação semelhante começam a considerar a mesma hipótese."
    Para evitar o aumento de ataques, o psiquiatra diz que é importante, por exemplo, não compartilhar fotos das vítimas mortas. "Divulgar essas informações pode perpetuar o mesmo comportamento", afirma. Nesta quarta-feira, após o ataque, vídeos e fotos das vítimas da tragédia repercutiram nas redes sociais.
    O neuropsiquiatra Dartiu Xavier, professor da Faculdade Paulista de Medicina, alerta que o caso deve ser tratado com distanciamento e respeito, sem banalização. A exposição às informações, diz, afeta as pessoas de maneira diferente e, por isso, é preciso cuidado. "Às vezes, um padrão de comportamento acaba sendo imitado. Isso vale para agressão e também para suicídio. Acaba servindo de estímulo", comenta o professor.
    Sem glamour
    Segundo Xavier, o episódio não deve ser omitido, mas é preciso atenção para não glamourizá-lo. "A gente copia muito esse modelo americano de glamourização da violência, e isso deveria ser combatido", diz o psiquiatra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

    'Perguntei se teve sonho realizado', diz amigo em mensagem a atirador

    Mãe do amigo de Guilherme disse que ele era um menino muito sofrido
    Mãe do amigo de Guilherme disse que ele era um menino muito sofridoReprodução Facebook
    “Ele gostava muito da história do massacre de Columbine, nos Estados Unidos, em que dois adolescentes entraram na escola e mataram várias pessoas”, afirmou um dos melhores amigos de Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, atirador que abriu fogo na escola Professor Raul Brasil, em Suzano, Grande São Paulo, na última quarta-feira (13). O amigo preferiu não se identificar.
    No massacre, dez pessoas morreram — entre elas, os dois atiradores — e 11 ficaram feridas.
    Em entrevista exclusiva ao repórter Matheus Furlan, da Record TV, o amigo disse que chegou a mandar uma mensagem para o atirador quando soube do ataque. “Perguntei se o sonho dele tinha sido realizado, mas ele não respondeu”, disse. Segundo o menino, foi neste momento que percebeu que Guilherme era um dos atiradores.
    A mãe do amigo do atirador afirmou ainda que conhecia bem Guilherme. “Não sei intimidades da casa dele, mas sei que ele era um menino muito sofrido”. Ele morava com o avô e as duas irmãs e tinha pouco contato com a mãe, que era usuária de drogas.
    Ainda segundo a Record TV, Guilherme e Luiz Henrique Castro, o segundo atirador, eram vizinhos e amigos desde a infância. Luiz era calado e se isolava em casa e Guilherme sofria bullying na escola por ter muitas espinhas no rosto. 
    *Estagiária do R7, com supervisão de Raphael Hakime

    Funcionária diz ter sido poupada por atirador: Era uma relação de carinho

    Em choque, funcionária afirma que Guilherme tinha problemas psicológicos
    Em choque, funcionária afirma que Guilherme tinha problemas psicológicosEdu Garcia / R7
    Em meio a um clima de comoção que tomou os quarteirões ao redor da Escola Estadual Professor Raul Brasil, pais e alunos se emocionam ao relembrar como teria ocorrido o massacre dentro da instituição. Encostada em um dos muros localizados na esquina do colégio, uma mulher chora copiosamente. Ela teria ficado frente a frente com um dos atiradores.
    Abalada, ela leva as mãos na boca para tentar conter a tristeza. Minutos depois se identifica com uma das funcionárias da escola em que dois atiradores mataram oito pessoas na manhã da quarta-feira (13), em Suzano. Em voz baixa, conta a um amigo que ficou diante do atirador mais novo, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e que ele a poupou por ter "um carinho especial" por ela.
    Sem conter as lágrimas, a funcionária da sala de leitura da escola, que não quis se identificar, disse que Guilherme era ex-aluno da escola e tinha diversos problemas psicológicos, sem entrar em detalhes. Vizinhos da escola também chegaram a comentar que a mãe de Guilherme era usuária de drogas e que ele vivia com um avô. Uma das alunas, que se escondeu na cantina durante os tiros, os atiradores teriam disparado para se vingar de práticas de bullying contra ele.
    Velório das vítimas
    Centenas de pessoas compareceram, na manhã desta quinta-feira (14), em Suzano, ao velório coletivo de seis dos dez mortos no massacre da escola estadual Professor Raul Brasil. As vítimas do crime cometido por dois jovens – Guilherme Taucci Monteiro, 17, e Luiz Henrique de Castro, 25 – eram cinco alunos, duas funcionárias e um comerciante, além dos próprios autores do massacre.
    Na Arena Suzano, ginásio localizado próximo a escola, o clima foi de tristeza e desolação entre familiares e amigos das vítimas. Os corpos de Eliane e Marilena, que trabalhavam na escola, e de outros quatro alunos foram velados lado a lado, em fileiras, em espaços divididos por cadeiras para os familiares.
    Com a cidade em luto oficial de três dias, muitos alunos do colégio e outras instituições conseguiram ir ao velório.“Foi muito triste. Horrível. A apreensão até receber a notícia é muito dolorosa”, disse Isabela, 16, amiga de Caio, um dos alunos mortos no massacre.
    O massacre
    Oito pessoas morreram na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, a 50 km de São Paulo, após dois ex-alunos invadirem o estabelecimento de ensino e dispararem na direção de estudantes e funcionários na manhã desta quarta-feira (13).
    As informações foram confirmadas pela Polícia Militar e pelo Governo do Estado de São Paulo. Segundo a corporação, oito pessoas morreram no local e outras duas após serem levadas para o hospital.
    Pelo menos 23 vítimas foram encaminhadas para hospitais da região, às 11h47. Segundo o governo do Estado, nove foram para o Santa Maria, três para a Santa Casa de Misericórdia de Suzano, duas para Luzia de Pinho Mello, dois para Santana, cinco para Santa Marcelina e duas para Clínicas. Minutos depois, às 12h35, o governo voltou atrás e confirmou 10 vítimas. Desta vez, sem mencionar quais seriam os hospitais para onde foram encaminhadas.
    Os atiradores estavam encapuzados e teriam invadido a escola disparando, de acordo com informações da Record TV. Cinco jovens morreram no local, além de uma funcionária da escola. Outras duas pessoas morreram após serem socorridas. Os suspeitos teriam se matado na sequência. As informações do centro de comunicação da PM de São Paulo.

    De Realengo a Goiânia: cinco massacres que chocaram o país

    O ataque a tiros na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, nesta quarta-feira chocou o Brasil e o mundo
    O ataque a tiros na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, nesta quarta-feira chocou o Brasil e o mundoEPA/SEBASTIAO MOREIRA
    O ataque a tiros cometido por dois ex-alunos da escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, logo traz à memória o atentado a um colégio no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011.
    Ambos os ataques foram premeditados e cometidos com armas de fogo por ex-alunos que se suicidaram após matarem estudantes e funcionários.
    Os dois casos estão entre as tragédias que marcaram a história recente do país.
    Relembre cinco ataques:
    Cinema em São Paulo
    Em novembro de 1999, o estudante de medicina Mateus da Costa Meira matou três pessoas e feriu outras quatro em uma sala de cinema do Morumbi Shopping, em São Paulo.
    Meira, que cursava o sexto ano de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, portava usou uma submetralhadora para o ataque. Ele foi condenado a 120 anos de prisão.
    Em 2009, Meira foi transferido para Salvador, onde moram seus pais. Naquele ano, ele foi acusado de tentativa de homicídio contra seu companheiro de cela Francisco Vidal Lopes, mas foi considerado inimputável [não responsável por seus atos] pela Justiça da Bahia.
    O atirador cumpre pena, atualmente, em um hospital psiquiátrico de Salvador.

    Massacre do Realengo completou seis anos em abril deste ano - 12 alunos morreram | Foto: Tânia Rego/Ag. Brasil
    Massacre do Realengo completou seis anos em abril deste ano - 12 alunos morreram | Foto: Tânia Rego/Ag. BrasilBBC NEWS BRASIL
    Escola em Realengo, no Rio de Janeiro
    Em abril de 2011, um atirador abriu fogo contra crianças e adolescentes da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na zona oeste do Rio. O ataque premeditado deixou 12 alunos mortos e uma dezena de feridos. As vítimas tinham entre 13 e 15 anos.
    Relatos de sobreviventes da tragédia afirmaram à época que o atirador Wellington Menezes de Oliveira, então com 23 anos, mirava na direção das meninas - 10 das 12 vítimas eram do sexo feminino.
    Oliveira, ex-estudante da escola alvo de seu ataque, se matou após troca de tiros com a polícia. Segundo a investigação do caso, o atirador deixou indicações de que o ato foi motivado, entre outras razões, pelo bullying de que ele teria sido vítima ao longo de sua vida escolar.

    Aluno de escola particular em Goiânia atirou contra colegas de classe durante horário de aula | Foto: Geovanna Cristina/Futura Press
    Aluno de escola particular em Goiânia atirou contra colegas de classe durante horário de aula | Foto: Geovanna Cristina/Futura PressBBC NEWS BRASIL
    Escola particular em Goiânia

    Em outubro de 2017, um jovem de 14 anos matou dois colegas e feriu outros quatro em uma escola particular de Goiânia. Uma das sobreviventes ficou paraplégica.
    Filho de policiais militares, o atirador usou uma arma da corporação. Segundo a investigação do caso, o garoto disse que atirou contra colegas porque sofria bullying no colégio e que se inspirou nos massacres de Columbine, nos Estados Unidos, e de Realengo, no Rio de Janeiro.
    O atirador foi condenado pela Justiça a três anos de internação, tempo máximo de reclusão previsto em lei como medida socioeducativa imposta a adolescentes infratores.

    Ataque incendiário em creche matou crianças e professora
    Ataque incendiário em creche matou crianças e professoraBBC NEWS BRASIL
    Creche em Janaúba

    Também em outubro de 2017, o segurança de uma creche municipal de Janaúba, em Minas Gerais, ateou fogo em crianças, funcionários e em si mesmo. O ataque premeditado por Damião Soares dos Santos, então com 50 anos, matou nove crianças de 4 a 6 anos e uma professora.
    De acordo com o delegado regional Bruno Fernandes, ele chegou a abraçar algumas crianças no meio das chamas.
    Foram encontrados galões de gasolina na casa dele. Segundo a investigação do caso, Damião escolheu o aniversário de três anos de morte do pai para o incêndio na creche e disse a familiares, dois dias antes do ataque, que iria morrer e dar aquele "presente" aos parentes.
    O atentado ao Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente deixou quase 40 crianças e funcionários feridos.

    Segundo a polícia, homem teria usado duas armas de fogo para atirar em fiéis na Catedral de Campinas
    Segundo a polícia, homem teria usado duas armas de fogo para atirar em fiéis na Catedral de CampinasReuters
    Catedral em Campinas

    Em dezembro de 2018, um atirador matou cinco pessoas na Catedral Metropolitana de Campinas, no interior de São Paulo. Segundo a polícia, Euler Fernando Grandolpho, então com 49 anos, usava duas armas de numeração raspada, agiu sozinho e se matou com um tiro na cabeça.
    "Rezei a missa das 12h15. No final da missa, uma pessoa atirou e fez algumas vítimas. Ninguém pôde fazer nada, ajudar de forma nenhuma. Peço que rezem pela pessoa, ele se matou depois de atirar. Foram mais de 20 tiros aqui dentro. Rezemos por ele e pelas pessoas que ficaram feridas. Estamos muito abalados com o que aconteceu", relatou à época nas redes sociais o padre Amauri Thomazzi, que conduziu a missa encerrada momentos antes do ataque.
    Segundo a investigação do caso, o atirador planejava "algo grande" havia pelo menos dez anos e não foram encontrados indícios de motivação religiosa no ataque.

Nenhum comentário:

Postar um comentário